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Entrevista com Mauro Maluf

Impossível conhecer a história de Wenceslau e não saber a estreita ligação da cidade com a família Maluf e o casarão que foi sede da madeireira Maluf.

                                                Trechos da transcrição da entrevista

Entrevistado: Mauro Cezar Maluf
Entrevistador(es): Bruna Almeida Osti; Gabriel Lechenco Vargas Pereira
Local: Wenceslau Braz - PR - Brasil
Data: 27/07/2017
Duração: 16 minutos e 47 segundos
Contexto: "Memórias brazenses", pesquisa inspirada pelo grupo de pesquisa EDITEC, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná criado.
Temas: Cultura, Desenvolvimento da cidade, Casarão, Ferrovia.

                                                                        A infância

“[...] tive uma infância muito boa aqui em Wenceslau, mais na parte rural, meus pais tinham um sitio, me criei nesse meio e [...] Em 85 servi o exército e foi a primeira vez que sai de Wenceslau, fiquei um ano fora, voltei e trabalhei um bom tempo com o sítio e [...] hoje faz 9 anos que eu to no setor, trabalhando com educação.
“[...] na infância a cidade era bem menor e tinha muito cavalo sabe, isso que marcou bastante na infância, solto pela cidade e tinham os terrenos baldios perto da casa e a gente fechava esses cavalos, as vezes o dono até sabia mas nunca se impôs né, eram conhecidos. A gente fechava esses cavalos e saia pros ribeirão que tinha na cidade, no sítio, isso ai marcou muito a infância.

                                                                    Wenceslau Braz

“[...] é um povo muito unido aqui em Wenceslau, tem as divergências né, política e tal, mas isso aí nas épocas só de campanha, mas é um povo muito unido, tranquilo. A gente [...] pelo que a gente vê na tv, Wenceslau é uma cidade muito calma né, não tem [...], a gente não vê tanto terror igual nas cidades que a gente né, que passa no jornal e tal, então é uma cidade muito tranquila, muito boa de viver. Se bem que eu sou suspeito para falar né, vivo aqui há 51 anos e não troco por lugar nenhum.
                                                                        A família Maluf

“[...] os Maluf aqui na verdade foram os pioneiros tá, assim tem uma figura muito conhecida que é o Miguel Nassif Maluf, meu avô e tem muita história ali, ele gostava de mexer com animais, cavalos, ele era domador e tal e tem muitas histórias que o pessoal fala como que ele lidava, então assim é uma história longa se for contar [...]. Ele veio do Líbano com a minha avó, vó Assima e teve 6 filhos né. E meu pai inclusive foi prefeito de Wenceslau, foi vereador por 4 vezes, então tem uma história toda de amor com Wenceslau.
“[...] Serraria Reunidas Maluf foi do meu tio Jorge Duarte, ele em 77 [...], houve uma tragédia e ele faleceu acidentado com a noiva sabe, tava a noiva no carro e a irmã da noiva dele, daí sobreviveu a noiva, faleceu ele e a que seria a cunhada dele, mas ele foi um dos pioneiros daqui também, da serraria sabe. E tinha o casarão, famoso casarão né, lá, que a pouco tempo desabou por descuido né, não houve tempo que ia ser tombado pelo patrimônio histórico e daí como alguns vândalos invadiram lá para roubar telha, madeira, daí estragou a estrutura da casa que veio a desabar, mas foi uma pena, é uma história bonita que era da cidade também.

                                                                            O casarão

“[...] o primeiro morador lá foi o Lionel Maluf e ele que começou a serraria, a fazenda Maluf na época era muito grande e não me recordo o ano, se foi em 84/85 que a reforma agrária tirou da família sabe [...], depois de um tempo, ele ficou abandonado lá no meio de um bosque, dum mato lá e virou tipo de um ponto turístico assim para juventude na época. Ficou conhecido como casarão mal assombrado, que ele era uma casa muito grande com área em volta assim, aquele aspecto diferente, tipo aquelas casa que você vê em filme de suspense assim e tal, tinha uma escadaria grande pra você chegar até lá e[...] mas por muito tempo o pessoal ia lá visitar e [...] inclusive diziam que era mal assombrada talvez até pela juventude mesmo que de repente o pessoal: “vamo lá visitar o casarão né?”, outros primos meu sabiam que o pessoal iam, corriam na frente, escondiam a moto no mato e pegavam aqueles lençol e entrava dentro da casa e ficavam escondidos e daí a segunda turma que não sabia de que eles estavam lá ficavam com medo, “vai você primeiro”, “entra você”
E numa noite dessas, pessoal [..] Eu sabia, eu tava com a segunda turma, eu sabia que eles estavam lá e fiquei quieto pra ver e um colega nosso que se dizia muito corajoso sabe, falou: “-Eu entro”, no que ele entrou e foi até a metade da casa, ele saiu de dentro de um quarto com aquele lençol, ele levou um susto mais tão grande que chegou a dar convulsão [risos].

Entrevista com o prefeito Paulo Leonar

Trechos da transcrição da entrevista
Entrevistando: Paulo Leonar;
Entrevistador(es): Bruna Almeida Osti; Gabriel Lechenco Vargas Pereira;
Local: Wenceslau Braz - PR - Brasil;
Data: 01/08/2017;
Duração: 56 minutos e 07 segundos.
Contexto: "Memórias da cidade", pesquisa inspirada pelo projeto de pesquisa EDITEC da Universidade Tecnológica Federal do Paraná criado em 2008.
Temas: Cultura; Prioridades da gestão; Desenvolvimento da cidade.

                                                                      Primeiro Mandato

 "Bom o inicio de mandato, primeira experiência minha na gestão pública, eu venho assim bem dentro de um anseio assim... de uma indignação né, tanto em termos do bairro, os serviços que a gente olhava e achava que poderia dentro de uma gestão pública dar uma contribuição maior pra cidade que a gente tem um carinho né. Uma fase importante da minha vida, estou muito feliz de estar aqui, são enormes os desafios; a gestão pública da perspectiva da tv que a gente vê, se a gente ligar o Jornal Nacional, o Fantástico e enfim, a mídia toda a gente percebe que se fala apenas em nomes e na coisa ruim que tá acontecendo, e isso gera uma cultura muito forte, eu vejo que é um problema no Brasil das pessoas acharem que a política é só uma coisa ruim, e não verem, como vocês estão tendo a oportunidade de ver, a importância de uma gestão pública na cultura, na educação, na arte, na saúde, na infraestrutura né. Mas é uma satisfação muito grande eu tá aqui representando hoje os munícipes, e conto com a contribuição de vocês[...]"

                                                                Adolescência

"Olha. Wenceslau Braz sempre teve uma tradição ligada ao gauchesco né, ao gaúcho. Então nós temos a rádio Educadora, que tem uma história muito bonita na cidade. A rádio vieram perdendo a sua importância e até sua, seu impacto, com a vinda da modernidade, com as redes sociais, com a tv com vários canais da tv a cabo, a internet, o próprio celular, com os CD’s hoje os pendrives né, então as rádios vieram... Eu por exemplo ouvia a rádio e ficava ali esperando com o dedo no tocador de fita pra gravar a hora que o cara colocasse a música, tinha que esperar vir a musica, cê ligava as vezes pra pedir a música e daí dez minutos você ficava lá, pendurado no rádio, pra esperar vir a música; você não tinha outra alternativa, se você quisesse ouvir a musica, você tem que esperar o momento né, e ai veio o tal do CD, do pendrive, tava dizendo pro meu irmãozinho que você pode ter a musica de qualidade na hora que você quiser e essa foi uma revolução enorme; então a rádio nossa ela teve muito presente e o gauchesco né, tinha até aos domingos um programa campeão de audiência né, que era o Baiano, uma figura tradicional da cidade, a gente ouvia inclusive antes de vir pra cá quando eu tava em Tomazina, o Baiano era uma potência na audiência, dá até saudade tem horas né.  "

" Na época a gente tinha as tradições ligadas ao civismo, sete de setembro era uma tradição que hoje já se perdeu, nós queremos aos poucos retomar né; as festas do aniversário da cidade, e as que mais chacoalhavam a cidade eram as ligadas a politica né; então na época você podia por exemplo em período eleitoral, tinham os bailões, tinha churrascada, tinha artistas famosos né, Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano, pra nossa região que eram de expressão né, e hoje já se perdeu muito disso né a gente já vê que... As brincadeiras de escola também, tinha gincana, a gente via as atividades físicas e brincadeiras ligadas as atividades físicas, o esporte né, prática esportiva, você ia pro campinho e passava o dia inteiro ali[...]"
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                                                                    Linha Férrea

"  Hoje a ferrovia não tem mais importância pra nós, pelo contrário, hoje a ferrovia ela é um obstáculo que hoje a ferroviária divide a cidade que não passa trem desde 2000(...) porque quantas casas a mais nós construímos, os escoamentos, pra você fazer um escoamento ali vocês vem que ela divide a cidade, então para um projeto de escoamento você não consegue passar por baixo, a obra é muito grande pra fazer da distância correta. Então tirando ela você faz um programa de drenagem melhor, você tem novas áreas para habitação e dá até ali para trabalhar ideia de ciclovias porque é bem... Ficou bem estruturadinho ali ou até uma nova estrada com uma saída na nova alternativa de entrada e saída da cidade(...) a diretoria da [RUM] que é ALL que detém ali os direitos, eles não têm interesse em reativar, não existe um volume suficiente de carga para eles que viabilize né, e hoje ela tá já totalmente tomada, habitações irregulares em volta, a cidade foi crescendo e espremeu a ferroviária, hoje é inviável você retomar[...]"

                                                                Serraria Reunidas Maluf
 
" Hoje ela se você perguntar para as novas gerações sobre a Serraria Maluf pouca gente sabe da importância dela pra cidade né. Com as casas sendo construídas praticamente quase todas com alvenaria e a madeira perdendo sua importância na construção civil, a serraria naturalmente foi diminuindo as suas atividades e hoje emprega poucas pessoas mas tá em atividade e tudo, é um dos locais em que a gente pode até estar estudando; a gente falando no assunto vou dar até uma conversada com eles pra considerar dentro desse patrimônio da história da cidade, tombar mais a frente."

                                                               Espaço Cultural
"(...) junto com toda a equipe de infraestrutura, mas surgiu ali a ideia de fazer ali aos domingos dança da terceira idade né, tem ali o bailão da terceira idade. Você tem ali o teatro, o circo a gente renovou o pessoal, pedi pra eles que fizessem o projeto do teatro também. Ali tem capoeira que tá entrando agora, acabamos de licitar, são várias as atividades... a fanfarra né, a musica, são várias as atividades que deram vida ao local. São investimentos pesados que não aparecem muitas vezes, mas para nós é de extrema importância, as próximas gerações eu tenho certeza de que a gente tá contribuindo muito com uma geração assim mais rica."



Entrevista com a historiadora Eliane Netrebka Ramos

"[...] Fazer o resgate dos fatos por meio da História Oral permitiu trazer vida
para dentro da narrativa, na tentativa de mostrar como um episódio  inquietante é capaz de manter aquecida a memória, deixando-a aguerrida e posicionada pela retomada dos fatos para o registro da pesquisa. Enquanto existe vida existe lembrança. E esta se estrutura em uma moldura composta por tantos e tão variados materiais (sentimentos, sentidos, lugares sociais, projeções, esquecimentos etc.). Reconstruir a memória daquele período também significou revigorar caricaturas, contradições e conflitos presentes nas diversas interpretações particulares dos sujeitos colaboradores, pois mesmo o relato histórico narrado para a constituição do texto não perdeu seu estatuto de apreensão intima e social, uma construção/representação da classe 
ou do grupo ao qual cada sujeito acreditava pertencer". (Esquinsani, 2012)

Mobirise
Trechos da transcrição da entrevista
Entrevistando: Eliane Netrebka Ramos;
Entrevistador(es): Gabriel Lechanco; João Guilherme Squinelato de Melo;
Local: Wenceslau Braz - PR - Brasil;
Data: 01/08/2017;
Duração: 32 minutos e 2 segundos.
Contexto: "Memórias brazenses", pesquisa inspirada pelo grupo de pesquisa EDITEC, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná criado.
Temas: Linha Férrea. Casarão.
“Então, eu acho assim: se você fizer uma entrevista aqui com, sei lá, 95% da população eles vão te dizer que vieram de famílias do sítio, do campo. Então, a minha mãe era do município de São José da Boa Vista e o meu pai também, o outro filho de outro sitiante aqui de Wenceslau nos 400 alqueires que é um bairro que tem próximo aqui. E... naquela coisa mesmo de tentar melhorar de vida, o meu pai casadinho de novo, né? Vieram pra Wenceslau e ele montou um comércio que tem ali na rua Benjamin Constant [...]. 
Que mais assim que eu lembro... morava próximo, também, ali onde hoje é o pronto socorro, ali era um hospital antigo, e eu lembro deles em ruínas, a gente ia tomar vacina lá – não é como hoje: vacina no postinho – ai eu lembro de vacina que a mãe foi levar e ali naquele lugar era um... era um hospital antigo... agora eu não sei dizer para você se ali era hospital mesmo, ou se era... essa informação eu não realmente não sei. Mas que eu lembro era isso, né? Do ginásio, da dificuldade... de infância e daquelas casas ali é... ‘tá tudo muito diferente do que era, né?
Então, da família do meu pai que mora no mesmo lugar, foi tudo reformado ali, mas é o mesmo lugar, né? Tem o açougue até hoje lá ainda... mas os vizinhos, ali, acho que foi trocando com o passar do tempo, né? Tem uma família na frente ali, mas agora não vai dar tempo mais de vocês irem, né? Que também era da irmã do Seu Abilho lá dos móveis Nilza, é uma família bem antiga aqui na cidade também, de repente aí pra trabalhos futuros, né? Que é isso, assim... não tem mais o que eu lembre, assim”.
[...]
“Tá, então vou me lembrar desde criança. Muita brincadeira de rua, muita brincadeira de rua a gente brincava muito na rua mesmo. É... a gente brincava em terreno baldio e tal. Ai quando eu fui ficando mais mocinha – eu ‘tava falando disso hoje, na escola lá com os alunos, né? E... eu já sou da época, inclusive vocês já falaram com o Beto [Presidente da Câmara], né? O beto era treinador de vôlei. O auge do vôlei, lembra do auge do vôlei que teve nos anos, na década de 80? Eu sou daquela geração. Então a gente fazia isso para se divertir, a gente ia pra quadra”.

                                                                            Profissão

“Eu vejo a docência como uma missão, ninguém fica rico hoje em dia com docência, né? Mas é uma coisa que me dá prazer mesmo, eu gosto muito. E a carreira acadêmica eu acho que ela é uma forma de você continuar estudando e você ter uma posição concreta dessa missão, não adianta só… é… não só aperfeiçoar, mas trazer outros pontos de vista que geralmente no material didático não tem, né? O material didático ele é limitado. Eu também sou contra essa coisa de você… “ah, não quero me especializar. Vou lá faço 3, 4, 5 pós de 6 meses tá tudo bem”. Não adianta você acumular títulos. Eu tinha uma professora que falava assim: “É caranguejo que anda do lado”, né? “A gente tem que andar pra cima”. Então, uma especialização é suficiente [...] eu acho que conhecimento é pra ser levado - e tem outra coisa também – eu tô na história. Produção de conhecimento que eu consigo, eu divulgo a minha região, história local. Eu acho que é muito importante.
Se você entrar na internet tem pouquíssima coisa publicada ali de Arapoti. É… Arapoti, quando eu fiz um trabalho, só que eu não publiquei esse trabalho ainda porque ele faz parte da minha dissertação – então eu não posso publicar. Eu não encontrei um artigo que falasse da ferrovia em Arapoti.
[...]
...eu pesquiso memória, pesquiso memória desde o primeiro trabalho que eu fui fazendo, assim, na faculdade pra… na história foi memória, é muito gostoso. O mais gostoso de tudo isso é você ir pra casa daquele, daquela pessoa que nunca foi abordada porque ninguém porque ela se sente desvalorizada, ai chega você, faz uma entrevista. Eles adoram conversar, né? Eles querem contar tudo, né? [...] Eu acho muito satisfatório você deixar a pessoa falar e como é que eu vou construir, por exemplo, uma história que não está no papel? É com a memória, memória que ajuda, né? É muito, muito, muito bacana mesmo. Falei demais, né? Eu falo muito”.

                                                                        O Casarão

“[...] essas histórias ai de assombração; sim, desde criança a gente escuta essas histórias, né? Mas é… eu lembro que até um dia – eu namorava o meu marido ainda – ele toda vida tem moto, né? E a gente foi fazer um passeio de uma tarde pra gente conhecer lá e… ele entrou e fuçava tudo e eu lá fora, nem entrei dentro – de medo de ver aluga coisa, né? Mas é… é um dos… uma das lendas, né? Da cidade aqui, né? E ficou no imaginário das pessoas, realmente, que lá é assombrado; e ‘tá abandonado mesmo lá, né? Vocês descobriram de quem é a propriedade?”.

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