Trechos da transcrição da entrevista
Entrevistando: Eliane Netrebka Ramos;
Entrevistador(es): Gabriel Lechanco; João Guilherme Squinelato de Melo;
Local: Wenceslau Braz - PR - Brasil;
Data: 01/08/2017;
Duração: 32 minutos e 2 segundos.
Contexto:
"Memórias brazenses", pesquisa inspirada pelo grupo de pesquisa EDITEC, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná criado.
Temas: Linha Férrea. Casarão.
“Então, eu acho assim: se você fizer uma entrevista aqui com, sei lá, 95% da população eles vão te dizer que vieram de famílias do sítio, do campo. Então, a minha mãe era do município de São José da Boa Vista e o meu pai também, o outro filho de outro sitiante aqui de Wenceslau nos 400 alqueires que é um bairro que tem próximo aqui. E... naquela coisa mesmo de tentar melhorar de vida, o meu pai casadinho de novo, né? Vieram pra Wenceslau e ele montou um comércio que tem ali na rua Benjamin Constant [...].
Que mais assim que eu lembro... morava próximo, também, ali onde hoje é o pronto socorro, ali era um hospital antigo, e eu lembro deles em ruínas, a gente ia tomar vacina lá – não é como hoje: vacina no postinho – ai eu lembro de vacina que a mãe foi levar e ali naquele lugar era um... era um hospital antigo... agora eu não sei dizer para você se ali era hospital mesmo, ou se era... essa informação eu não realmente não sei. Mas que eu lembro era isso, né? Do ginásio, da dificuldade... de infância e daquelas casas ali é... ‘tá tudo muito diferente do que era, né?
Então, da família do meu pai que mora no mesmo lugar, foi tudo reformado ali, mas é o mesmo lugar, né? Tem o açougue até hoje lá ainda... mas os vizinhos, ali, acho que foi trocando com o passar do tempo, né? Tem uma família na frente ali, mas agora não vai dar tempo mais de vocês irem, né? Que também era da irmã do Seu Abilho lá dos móveis Nilza, é uma família bem antiga aqui na cidade também, de repente aí pra trabalhos futuros, né? Que é isso, assim... não tem mais o que eu lembre, assim”.
[...]
“Tá, então vou me lembrar desde criança. Muita brincadeira de rua, muita brincadeira de rua a gente brincava muito na rua mesmo. É... a gente brincava em terreno baldio e tal. Ai quando eu fui ficando mais mocinha – eu ‘tava falando disso hoje, na escola lá com os alunos, né? E... eu já sou da época, inclusive vocês já falaram com o Beto [Presidente da Câmara], né? O beto era treinador de vôlei. O auge do vôlei, lembra do auge do vôlei que teve nos anos, na década de 80? Eu sou daquela geração. Então a gente fazia isso para se divertir, a gente ia pra quadra”.
Profissão
“Eu vejo a docência como uma missão, ninguém fica rico hoje em dia com docência, né? Mas é uma coisa que me dá prazer mesmo, eu gosto muito. E a carreira acadêmica eu acho que ela é uma forma de você continuar estudando e você ter uma posição concreta dessa missão, não adianta só… é… não só aperfeiçoar, mas trazer outros pontos de vista que geralmente no material didático não tem, né? O material didático ele é limitado. Eu também sou contra essa coisa de você… “ah, não quero me especializar. Vou lá faço 3, 4, 5 pós de 6 meses tá tudo bem”. Não adianta você acumular títulos. Eu tinha uma professora que falava assim: “É caranguejo que anda do lado”, né? “A gente tem que andar pra cima”. Então, uma especialização é suficiente [...] eu acho que conhecimento é pra ser levado - e tem outra coisa também – eu tô na história. Produção de conhecimento que eu consigo, eu divulgo a minha região, história local. Eu acho que é muito importante.
Se você entrar na internet tem pouquíssima coisa publicada ali de Arapoti. É… Arapoti, quando eu fiz um trabalho, só que eu não publiquei esse trabalho ainda porque ele faz parte da minha dissertação – então eu não posso publicar. Eu não encontrei um artigo que falasse da ferrovia em Arapoti.
[...]
...eu pesquiso memória, pesquiso memória desde o primeiro trabalho que eu fui fazendo, assim, na faculdade pra… na história foi memória, é muito gostoso. O mais gostoso de tudo isso é você ir pra casa daquele, daquela pessoa que nunca foi abordada porque ninguém porque ela se sente desvalorizada, ai chega você, faz uma entrevista. Eles adoram conversar, né? Eles querem contar tudo, né? [...] Eu acho muito satisfatório você deixar a pessoa falar e como é que eu vou construir, por exemplo, uma história que não está no papel? É com a memória, memória que ajuda, né? É muito, muito, muito bacana mesmo. Falei demais, né? Eu falo muito”.
O Casarão
“[...] essas histórias ai de assombração; sim, desde criança a gente escuta essas histórias, né? Mas é… eu lembro que até um dia – eu namorava o meu marido ainda – ele toda vida tem moto, né? E a gente foi fazer um passeio de uma tarde pra gente conhecer lá e… ele entrou e fuçava tudo e eu lá fora, nem entrei dentro – de medo de ver aluga coisa, né? Mas é… é um dos… uma das lendas, né? Da cidade aqui, né? E ficou no imaginário das pessoas, realmente, que lá é assombrado; e ‘tá abandonado mesmo lá, né? Vocês descobriram de quem é a propriedade?”.